domingo, 28 de outubro de 2012

Herman Hesse - Narciso e Goldmund









“ O homem é formado por uma multidão de egos”  



“ não seria mais que espumas boiando no mar,

ondulação sem sentido

nas torrentes dos acontecimentos”
 


“ fizera alguns buracos 
na rede do tempo 
e da realidade ilusória”






Herman Hesse - Escritor Alemão
trechos de -  O lobo da estepe





Narciso e Goldmund







Só depois de ter vivido as alegrias e as dores de todas as paixões, depois de ter experimentado o amor, a luxúria, a fome, a peste, a guerra, o crime, o medo e a coragem, o egoísmo e a abnegação, depois de haver explorado a carne e o espírito de inúmeras mulheres – habitado por uma ânsia de ilimitação, mesmo na entrega mais veemente – 


só então Goldmundo logra materializar numa obra de arte o seu ideal de beleza: esse rosto de uma virgem, que é a síntese maravilhosa de tudo o que ele amou, de todas essas mulheres que desvendou, a quem fez sofrer e por quem sofreu para as conhecer, e até do sol e da lua, das florestas e do vento, porque semelhante rosto será, em última análise, uma imagem da totalidade, e para a totalidade tende todo o misticismo estético de Hermann Hesse.

 
Sendo, aliás, como o é, quase toda a sua obra um longo diálogo interior entre os duplos, em Narciso e Goldmundo Hesse encarna nas duas personagens, que exprimem os elementos apolíneo e dionisíaco, ou mais precisamente, o intelectual Narciso a dignidade da solidão e da reserva, as satisfações do ensimesmamento e a escureza das suas funduras; o intuitivo Goldmundo o entusiasmo, a vertigem da sensação, a procura do belo pela experiência exterior, a busca inconsciente da infância perdida, o regresso à origem.
 



 Nesse grande afresco da Idade Média que é o romance Narciso e Goldmundo, não há qualquer veleidade de reconstituição arqueológica, mas antes um palpitante bosque de símbolos, ao mesmo tempo que uma aprendizagem da vida e a descoberta dos mecanismos do pensamento e da arte, enfim reunidos na conjunção das existências paralelas, porém tão distantes, do frade e do escultor.



  A própria biografia de Hermann Hesse apresenta traços comuns com a dupla experiência de Narciso e Goldmundo. Destinado pelos pais à carreira teológica, Hesse  fez os seus estudos nos seminários de Maulbronn e de Tubinga. Se é certo que não teve a vida errante de Goldmundo, o seu temperamento paradoxal apetecia tanto a glória dos sentidos como o retiro, as cinzas e os veludos da interioridade, com o seu orgulho, os seus pélagos sombrios.




 Mas num e noutro 'modo' tentando sempre realizar a personalidade livre e autêntica, capaz de se ver sem se mirar, de se julgar sem comprazimento, É dessa dualidade, com o seu consequente apetite de unidade, que nasce a força da obra de Hermann Hesse, em que a amizade viril (e através dela a dialética dos contrários) desempenha um papel primordial, superado pelo desdobramento do 'eu' em Ele e o Outro (Klein und Wagner).
Certas ideias mestras insistentemente se repetem na sua novelística, que pretende apresentar-nos sempre, em ação e em reflexão, as chaves da existência. 



 Tal o motivo da morte na água, com o seu significado de retorno à mãe, da qual sobretudo o artista, aquele que força as portas do mistério pelo conhecimento sensível, nunca se aparta – e por isso torna as obscuras exigências da carne em beleza, em esclarecimento do que existe.



Marcado desde muito jovem pela sabedoria oriental e pela atmosfera pietista da sua ascendência de pastores protestantes, depois pela sua visita à Índia, facilmente se explica o seu pacifismo durante a guerra de 1914-18, que lhe valeu as primeiras perseguições nessa Alemanha de que ele, entretanto, representa, mau grado o pudor e a ironia latentes em tantas das suas mais delicadas e lúcidas páginas, o melhor espírito romântico, com tudo o que implica de imensidade de aspirações. Por isso Demian é um dos romances mais formosos e mais europeus do nosso século e o Nobel premiou com inteira justiça a obra romanesca de Hermann Hesse.




Inteiramente cônscio da importância das vozes discordantes, o autor de Peter Camenzind previu, com náusea e pavor, os desmedimentos do hitlerismo, os seus atentados à liberdade. Testemunho dessa sua atitude são alguns dos artigos de Frieden und Krieg.



 Durante o regime nazi, os escritos de Hermann Hesse foram proibidos na Alemanha e impressos na Suíça, onde de há muito ele habitava, tendo acabado por adotar a nacionalidade helvética. Não obstante, nada mais alemão, no bom sentido, como obra de cultura, do que a sua fantástica Viagem  no Oriente, impregnada toda ela desse amor do mágico tão caro à psique germânica e onde, na interpretação da vida e do sonho, se dão as mãos, em inesperada farândola, figuras da mitologia e da literatura de que ele próprio provém, desde Heinrich von Ofterdingen ao alquimista Lindhorst, até às criações da sua própria mente, que à beira dele permanecem para além do romance concluso.



A interdependência de todas as coisas em relação ao cosmos é talvez a cúpula da ficção, não muito extensa, de Hermann Hesse, graduada e sintonizada em esforço de procura e revelação. Da disponibilidade de Goldmundo, da tensão de Klein em busca de um 'si' não atraiçoado, do choque de ambos com um elemento água-mãe-paz, tira-se a dupla lição de uma conquista poética, frustrada ou não, de unidade – até de re-união –, e de libertação do indivíduo, de assunção de uma autenticidade comprometida.



Sempre, de resto, Hermann Hesse, individualista à l' outrance, se opôs ao aniquilamento do homem, apresentando, contra o carneirismo que submergiu a Alemanha dos anos 30 e 40, a consciência de si, o Eigensinn, suprema virtude, no seu ver, que só escuta e respeita o 'si'.
   


Não quis Hermann Hesse, após a guerra que derruiu os valores anti-humanos do nazismo, tomar posições políticas, nem optou por qualquer das Alemanhas divididas. Confinado, porém, na sua arte e defendendo do mundo a sua intimidade, permaneceu, até ao fim, Narciso-Goldmundo, velador da beleza como descoberta pessoal, encontro com as fontes genesíacas e participação no sublime – solidário entanto que solitário, como poderia dizer Albert Camus, seu parente de espírito.



 












































http://www.delfimsantos.net/manuela/UTR_Narciso-Goldmundo.htm










Leia também:






Demian





Siddharta







O lobo da estepe











Peter Camenzind

https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRXL2zyGgQ_MHHxby9CYrjV26-DA2Qzxp6PX4mbJ9H67HRuITw7
















quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Nela todas as cores , todas as flores...






Confeita
em pétalas & brisas
que sensibiliza 
 ilumina
e pulsa o amor
soprando rima

 Mas qual delas?
 Todas elas
todas nela
seja qual flor 



                                                        
                                      
                                                       


DAVI CARTES ALVES
















quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Luar






No final do trapiche
  só havia  lua , nua
  una
 imensa

  naquela noite
revolveu-se
em pétalas iluminadas
 de jasmim

  abocanhando 
os emanorados a
contemplá-la
de amor


 

DAVI CARTES ALVES








terça-feira, 16 de outubro de 2012

Parabéns a todos os professores!





Educar
é o tear do coração
com sólidos cordões dourados
do bem querer
e da ternura
 que tem mais vida




DAVI CARTES ALVES











domingo, 14 de outubro de 2012

Se nas coisas que digo ...







Lobos? São muitos
mas tu podes ainda  
a palavra na língua  
aquietá-los


Mortos? O mundo
mas podes acordá-lo  
sortilégio de vida  
na palavra escrita


Lúcidos? 
são poucos
mas se farão milhares  
se à lucidez dos poucos  
te juntares


Raros?
  Teus preclaros amigos
e tu mesmo, raro
se nas coisas que digo  
acreditares.





Hilda Hilst 







quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Alguns toureiros







Eu vi Manolo Gonzáles
e Pepe Luís, de Sevilha:
precisão doce de flor,
graciosa, porém precisa

Vi também Julio Aparício,
de Madrid, como Parrita:
ciência fácil de flor,
espontânea, porém estrita

Vi Miguel Báez, Litri,
dos confins da Andaluzia,
que cultiva uma outra flor:
angustiosa de explosiva

E também Antonio Ordóñez,
que cultiva flor antiga:
perfume de renda velha,
de flor em livro dormida

Mas eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete , o mais deserto,
o toureiro mais agudo,
mais mineral e desperto,

o de nervos de madeira,
de punhos secos de fibra
o da figura de lenha
lenha seca de caatinga,

o que melhor calculava
o fluido aceiro da vida,
o que com mais precisão
roçava a morte em sua fímbria,

o que à tragédia deu número,
à vertigem, geometria
decimais à emoção
e ao susto, peso e medida,

sim, eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete , o mais asceta,
não só cultivar sua flor
mas demonstrar aos poetas:

como domar a explosão
com mão serena e contida,
sem deixar que se derrame
a flor que traz escondida,

e como, então, trabalhá-la
com mão certa, pouca e extrema:
sem perfumar sua flor,
sem poetizar seu poema




João Cabral de Melo Neto 














 

domingo, 7 de outubro de 2012

Vinho & Poesia




Barolo





Apresenta cor vermelho granada 
com reflexos rubis
 seu aroma de bouquet etério
 com expecional 
riqueza harmônica & perfeição,
 vinho de caráter 
e extraordinária aristocracia


 possui notas florais, 
violeta e fruto silvestre fresco
 em seu paladar se destacam
 a estrutura das notas de tabaco
 ideal para acompanhar massas 
e carnes vermelhas

 grená, com notas castanho,
 é um vinho bem aromático, 
com notas que lembram trufas, 
boa fruta, leve madeira

tem alta acidez, 
taninos potentes, 
mas verdes, 
retrogosto longo e gostoso







quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Carole King "So Far Away"










O nosso amor um delírio?






Quis pra tua alma ser lírio
para seus olhos colírio
nos teus sentidos
 suspiro
fazer do esplendor o seu brilho
te estimar sob um círio
te perscrutar qual Porfírio
perdoar-te amiúde, 
prefiro
o nosso amor um delírio?








 DAVI CARTES ALVES








terça-feira, 2 de outubro de 2012

tílias





" Olhando para a lua
que se erguia 
por detrás das
tílias "


Liev Tolstói  - Ana Karenina




Império da dor






Vou me consolar com as rochas
neste império de filisteus
implorar aos espinhos chorosos
arrancados do jardim
que afaguem os cabelos meus

suplicar a noite fria
um buquê de rosas negras
que perfume e incense uma alma
sob densa melancolia

caldo de luar com gelo
sob a música da agonia
e porções de mau me quer
como fina iguaria

paras serpentes peçonhentas
que se debatem em teus caixotes
um jasmim tingido de sangue
e novas cartas de alforria


“devolver ao teu deus ambíguo
esta alma como um incêndio
que o cure de criar !!!



DAVI CARTES ALVES








James Taylor & Carole King - You've Got a Friend