sexta-feira, 28 de setembro de 2012

diamantemente esplendida e luminosa







“ O primeiro alimento é a palavra. Da concepção ao nascimento ela agasalha, reconforta, acarinha, (...)






Com sua marca indelével nos lembra o silêncio dos entardeceres. Destino, punhal suspenso na esquina do coração. Estrela que se esqueceu de nascer.




A palavra é pulsante, ardilosa em suas teias de horizonte, difícil domá-la na arena do papel.




Doce de chuchu lambuza a alma? Um bule esmaltado fareja as manhãs? Lâminas de sal ferem? A pele do tempo sufoca? Que pássaros migram dos olhos da amada? Um céu de infinitos possui tímpanos de prazer? E as roupas sonolentas nos varais, quem as terá colocado? Os dados da angustia prevalecem? Quem fez o laço dos moinhos e deitou no ventre das pedras? A tarde é uma interrogação?




O grão se faz á medida para que a palavra exploda e o menor de seus fragmentos é vida.




Que pode oferecer o que trabalha a palavra, a não ser a própria palavra retransformada em casa, beijo, prego, anzol ou pedra de rio?




A palavra arde; a palavra fere, mastiga, tritura; a palavra brota; a palavra é grão; a palavra explode em veludo.



Carpir silencioso onde sequer a voz alcança, ventre onde o som debulha notas de trigo, a palavra gera.




Seremos dignos dela?




Surgem, as palavras, nas horas mais estranhas. Numa fria madrugada me acordam, me sacodem e dizem: Levanta-te e anda! E que faço senão obedecê-las? Tiritando, saio atrás de caneta e papel para registrá-las. No ônibus, na fila do Detran, na corrida no parque. Quando menos prevenido me encontro elas me encontram. (...)




Em outros momentos eu a procuro em desatino e ela não se revela. Busco a palavra certa para completar a frase perfeita e ela se esconde. E ela, feito mulher bonita e desejada, se enche de brios, se faz de gostosa, de difícil, e não cede. Sofrer por ela é quase como sofrer por um amor impossível. 




Eu, palavrador, tenho feito delas uma companhia de muitas e muitas horas, entre um cálice de vinho e um concerto de Bach. Tenho, com elas, uma luta cotidiana. Com várias derrotas e algumas vitórias. Que as palavras, caros leitores, não se rendem por qualquer elogio. Não se entregam a um simples toque de dedos. São orgulhosas, as palavras. Conhecem o seu valor. Maravilhosamente carinhosas, as palavras, quando sabemos conquistá-las.




Elas se divertem com os escritores que pensam que as têm em seu poder. Riem daqueles que imaginam que elas estão a sua disposição em qualquer circunstância. 




Mas se deliciam com os que entendem que uma palavra não é feita tão somente de símbolos e caracteres, mas que elas contêm segredos e artimanhas. Uma palavra, caros amigos, possui alma. Perversa com quem a desdenha; generosa com quem desvenda sua intimidade.




Eu, no meu ofício a respeito. Essa que se entrega e se deixa burilar, diamantemente esplendida e luminosa, por tantos escritores, o que me causa inveja. Essa que, de vez em quando, pousa em mim cheia de encantamento. 




(...) a frase salta num repente e me toma, toda métrica e ritmo: Levantar-se a tempo de acordar o sol. Caminha até o banco e comigo retorna, grudenta sanguessuga, até que a faço repousar em um bloco.




É assim que se faz. Nada de magia, fórmulas milagrosas, inspiração divina, yoga, mentalização ou similar. Apenas, sensibilidade, imaginação e trabalho, muito trabalho.




A diferença entre uma pessoa dita normal e outra criativa é que esta possui, de forma pura e simples, percepção mais acurada, ou, conforme as palavras de Szent-Gyorgyi, essa pessoa possui a capacidade de ver o que todo mundo vê e pensar o que ninguém pensou.




Assim se escreve. Você lê, e muito; é imaginativo, observador; freqüenta ou não oficinas de literatura. Não mais que de repente, surge-lhe a idéia, o desenho dos personagens, o desenrolar da ação, o clímax. A sua frente o computador, a máquina datilográfica ou, simplesmente, o papel em branco e a esferográfica. 




Em você, a receita e a técnica se complementam. E você as segue, minuciosamente, livro a livro. O resultado, claro, é encantador e merece aplausos. Mas (e como é importante este mas) se além de tudo você for um transgressor e possuir impetuosidade, destempero, ousadia, indignação, ao agregá-los à técnica atinge o nirvana. 




Se definir o seu próprio idioma, haverá de transformar peixes em estrelas. E quando decifrar a alquimia das palavras, sem se preocupar em transformá-las, as transformará de forma tal e tão brilhante que haverá de se perpetuar. (Talvez o sucesso não aconteça de imediato. Normal. Mas você é daqueles a quem o vento não dobra, vaso que não se quebra à primeira queda; você tem consciência de seu talento e, por isso, e por outros tantos motivos, há de perseverar. Bravos! Com toda a certeza que a vida permite, você o alcançará).




Escrever é um dom, segundo Domingos Pellegrini; não é mérito pessoal, mas herança humanitária. Honrar este dom com trabalho e ética, como em qualquer atividade humana, é o grande mérito.




Alguns o conseguem, outros não. Àqueles, seja qual for o grau, é dado olhar o pôr-do-sol através da tempestade. Meter as mãos no barro e transformá-lo em tulipas.




Redescobrir a vida e sua melodia. Perceber a sutileza do espanto e empalmá-lo. Destravar o carro e deixá-lo ao sabor das correntezas sentindo o vento cortar a pele, certos de que, ao fim e ao cabo, haverá, sempre haverá, a magia das palavras e o deslumbre de quem prova e sente o maravilhoso sabor de cada um de todos os dias.








Alguém se habilita? (...)"





Texto de - Sergio Napp - Escritor Brasileiro









sábado, 22 de setembro de 2012

Cílios










 Diz que o mar já não é mais o mesmo enquanto frita um filé de cachalote, depois do almoço Sophie corre de pantufas na chuva gritando que os lírios estão febris nesta manhã, ela ri dos trovões que lhe derramam impropérios  




Sophie  repara, absorta num silêncio, que nas miríades de sulcos dos riscos na tabua de carne, há manhãs luminosas, dias de garoa, lágrimas, feriados, o consumo temperado de momentos inesquecíveis, salpicado de ausências e sonhos,  


no emaranhado de vincos, os amores que se foram, relembrados ao longo de um  profundo suspiro, outro toque entre os cílios, um barulho lá fora, o vento sugere uma dança engraçada às roupas no varal, 


A paixão de Sophie é cortar os longos cílios de velhas bonecas e costurando-os minuciosamente, bordar num singular mosaico de tramas,  estojinhos para celular  



Com as unhas longas e impecáveis, Sophie tamborila sua música preferida em um dos suportes frios do ponto de ônibus. Repara caírem em intervalos precisos na pequena poça d’água, pingos que iniciam uma fina garoa, sem querer,  espanta os pardaizinhos de cristo quando estoura outra bola do chicle metade uva metade laranja.




Durante o dia, especialmente no ônibus, lhe incomoda o logo da empresa que trabalha, na camisa que ficou grande demais : CASA DA AZEITONA, amiúde as pessoas reparam uma e muitas vezes no desenho  e deixam a protagonista azeitoninha no caroço,
mas o que a irrita é que mesmo carregando um outdoor no peito, lhe perguntarem:

Onde você trabalha?  



Á tarde, Sophie estuda em uma grande universidade, mas é uma garota triste, sozinha, sempre falando pouco, monossílabos inaudíveis, possui um olhar distante, profundo,  fugidio, apenas sorri e ilumina-se, quando sente em sua pele o toque de uma  borboleta, aquela mesma das tardes de sol, ela a contempla  afetuosamente, suas cores, seu vôo doce e  leve, sem pressa e sem os problemas que tanto a incomodam. 





 Sophie ama escrever a noite, sobre as flores, sobre a vida, sobre as borboletas  coloridas, é onde se encontra com as dúvidas e respostas dos seus  problemas, ela dorme um pouco, e sonha com a chuva caindo calmamente  entre pingos coloridos e musicais, sonha a felicidade viajando  em  outros mundos, onde um príncipe, forte,  atencioso, com seus longos  cabelos dourados lhe recita poemas de amor, doces, seu mar de amor,   profundo mar, e o seu céu torna-se colorido, um céu de ametista, que   brilha lindamente em seus olhos.



 Sophie  desperta suavemente , volta pra sua realidade, ela chora sempre que vê a lua   morrer em seu céu de ametista, juntamente com seus  sonhos de amor 




Ao despertar , repara novamente na praça a presença daquele homem estranho, como sempre percebe, ele não reagiu aos evangélicos lhe entregando o panfleto, nem os olhou, todos os dias a mesma cena, encostado na amurada, depois senta no banco, imóvel, os olhos fixos no córrego sujo, as crianças chegam no mesmo horário, trazendo bola e a algazarra, provocando-o, brincando de dar susto, Ehhh! Ehh ! Hei!

E ele tão frio e indiferente como uma rocha sob o musgo, o sabiá mais pertinho, o joão de barro já rente a seus pés, outros pássaros mais ousados, e ele sempre de costas para a vida que jorra na rua, quieto, indiferente ao murmúrio do comércio, a balbúrdia dos feirantes, e toda polifonia do cotidiano, quando a tantas do folguedo dos pequenos, a bola bate em suas costas, outro silêncio e os moleques petrificados,

Sophie fica tensa,


 mas ele sequer virou-se, os meninos apenas paravam o jogo, diante de seu andar desacertado, seu tossir esganiçado, seu arfar descompassado, por nascer meio corcunda, e o golpe de misericórdia, apaixonar-se tão febrilmente pela moça tímida da floricultura mais sortida...







Os dias são lépidos e vorazes, Sophie cresce, amadurece, e aparece,  mas as encomendas dos estojinhos aumentaram, agora esta de olho nas bonecas da irmã caçula, 

persisti a dúvida:  se compra um novo carro ou se faz um passeio de balão, sobre as fazendas de girassóis


 mas ultimamente  deleita-se no cuidado com as flores, terapia dos deuses do amor, foi quando pediu pra não contar o seu segredo: 

- Olha, este assunto é material radioativo, viu? Não pode vazar de jeito nenhum, entendeu? 

- Promete? Responde! Promete???

 Enquanto colhia os cabelos, intimidando com sua beleza exuberante o grande espelho ovalado,
os braços em arco, como se fosse executar um passo de bailarina, depois foi pra janela, abrindo-a, assustou-se virando o rosto diante da polifonia agressiva da grande metrópole.


Sophie olha com ternura para o vaso de flores já pálidas, mas que daquela altura ainda borrava de belas cores aquele céu cinza-amianto, gérberas, estrelicias, calandivas, campânulas, da um beijo sedativo em uma azaléia ferida, sob luz divinal, levou o vaso pra bancada, água, poda e afago


Um suspiro afetado, sente a brisa e suas carícias na samambaia. Ela olha o relógio novamente, tensa, pela janela, vê o cachorro barulhento correr atrás das bicicletas naquele trecho de sempre, separa as flores com carinho e tenta novamente, em vão,
 a anestesia não pegou de novo, droga!


 A tiara caramelo nos lábios, corrige os cabelos, tenta outra vez, antes, mais uma tragada no cigarro, mas não tem jeito, o caule esta muito fino, desiste! 


E com pena, porém resignada, arranca mesmo assim as pétalas feridas da flor sem a plicar a anestesia.
Lamenta enquanto as pétalas sentem o peso das lágrimas. 


Sentou-se um pouco, olha o formigueiro humano lá embaixo que parece ser pisoteado de tanta agitação

Nos olhos, persistem ainda as doridas nuvens que restaram de um céu despedaçado.

Comentei com Sophie que o tio da bela moça, um dia  tinha ido lá pra ver se eu tinha a cara do perigo, anos depois voltaram num celta prata.  Deu pra fazer muito bem essa leitura. Já a tia sabia que era não era nada disso. Flores e joias raras são tão bem protegidas. Tristeza.

 Quis falar um pouco mais do amor, mas ela pediu pra mudar de assunto, reparando nas unhas recém pintadas com motivos florais:

- Vai passar pela floricultura?
- Tem uma entre a Praça da Ucrânia e o Colégio Positivo, lembra?
- Não, não, ela fica na Praça da Ucrânia mesmo
- É verdade, próximo do tubo
- Traga-me todas as magnólias que tiver


Depois, a dor no peito voltara muito mais intensa, tonturas e muitas, muitas vozes,  pessoas ou seriam fragmentos delas, imagens ,  slides disformes, e a música, novamente, aquela música da infância junto com outras imagens ...



As mais Belas Fotografias em Preto e Branco/ Fotos p&b - 02






o volume diminui calmamente.

A chama cambiante da vela deu a última gingada diante daquela vida que se debatia,  restando apenas o círculo disforme e inacabado de cera no pirex de flores sem cor, os olhos fecharam-se suavemente no ultimo beijo dos cílios?

Tudo se consumindo e diluindo-se num único grão de terra, num último píxel.

Ainda ouvira o som como que de uma revoada de pássaros em debandada num céu de amianto, que garoava pétalas amarelas de crisântemo...


Ela vem numa lenta procissão entre miríades de grandes nuvens , elas são muito mais suaves do que pensava, vem  montada num lindo arrebol Cumulonimbus , efusiva, grita para os pássaros, e daí???






Acorda ofegante, derruba a garrafinha d’água, tateando pelo abajur


Agora são outros sonhos?

Mas Sophie gosta mesmo,

é de caminhar à beira mar...





















 DAVI CARTES ALVES


















Amanhecer






Vê pelas janelas úmidas d’alma
aquelas mesmas folhas
e o vento lançando-as
dominando-as,
em uma dança sensual

vertigem em espiral
como o rodopiar 
de uma bailarina
na neblina densa
do ocaso taciturno

o sopro da noite 
entra pelas frestas
e traz uma cantinela triste
folheia sobre a mesa
duas páginas do livro
de soturnas poesias

um suspiro profundo, cadenciado
é o estribilho que sobrou
do resto da noite fria
que não recebeu o banho de luz
que há no paraíso
dos teus olhos ternos e distantes

derramados na lembrança
pelo caldo de luar
que banha a bailarina
em seu vestido de folhas....


amanhecer






 DAVI CARTES ALVES


















Yellow







quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Teu olhar






Teu olhar
ouro doce de luar
mar manso
eterno remanso
meu deleite
na continuação de amar

teu olhar
sopro doce de luar
derrames de ternura
no conchego
de uma estrela meiga
acolhedora

teu olhar
beijo doce de luar
cativas a vislumbrar o teu mel
em cálice de cílios

a debater-se submisso
na tua leveza, poesia
em fim aquietam-se
minhas fúrias, as tormentas
meus delírios

teu olhar
mar doce de luar
lacrimejando a paz macia
do verbo amar



  DAVI CARTES ALVES



Foto - Fiorella Mattheis












domingo, 16 de setembro de 2012

Grande Sertão Veredas - Frases











“ Nhorinhá , florzinha amarela no chão
(..) e tudo nesse mundo podia ser beleza”






“ graça de carinha, e riso e boca
os compridos cabelos, num esquadro de janela”







“ tudo o que era corpo era bom cansaço”







“ aquela visão de pássaros, aquele assunto de Deus”



“ a flor do amor tem muitos nomes”





“ aquilo é poço que promete peixe”



“ como em fala de livros o senhor sabe ,
bel ver, bel fazer, bel amar
o que uma mocinha assim governa,
sem precisão de armas e galope "





"a espécie do que senti, o sol entrado”



 

“ saí de lá aos grandes cantos, tempo de verde no coração,
  numa alegria feito nuvem de abelhas em flor de araça”



“ o sol em pulo de avanço”



“ amigo é o braço e o aço,
eu gostava dele na alma dos olhos”



“ Falavam os rifles, festa de guerra...”


“ aquele homem fazia frio feito caramujo parado na sombra”


“ pedia biz, pedia triz, Deus governa grandeza”

“ daquela mão eu recebia certezas”


“ o luar que põe a noite inchada”



" na cama daqueles desertos sem pássaros"

 

 

“ O Reinaldo disse : Era, mas o dito assim botava surpresa. E a macieza da voz, o bem querer sem propósito, o caprichado do ser, e tudo num homem de armas, bem jagunço”





“ só um bom tocado de viola é que podia remir a vivez de tudo aquilo”



“ águas pra fazerem minha sede”





“ a luz da candeia bailante, feito formosura de moça”


“ trabucar duro pra dormir bem”




“ Ah! mas com ele até o feio de guerra podia alguma alegria, tecia seu divertimento”





“ como Zé Bebelo simplificava os olhos”


“ O azeite da lua (..) com foras e auroras
e deu aquele vento trazedor: chegou a chuva”








“ A parança se foi numa vereda sem nome nem fama,
corguinho deitado demais, de água muito simplificada”






“ a gente só sabe bem, aquilo que não entende”








“  Titão Passos esperava desolhadamente (...) 
tão sério, com as mãos ajuntadas em frente da barriga,
só esperando o nada virar coisas”




“ reinou zoeira de folia, eu estava que impava,
 a gente estava desagasalhado na alegria, 
feito meninos”






“ O rio desmazelado, livre, rolador”




“ o que é de paz, cresce por si, (...) 
quando a gente dorme , vira tudo,
vira pedra, vira flor”




“ naqueles olhos e tanto de Diadorim, o verde mudava sempre,
com a água de todos os rios em seus lugares ensombrados(...)
 eu sendo água me bebeu,
eu sendo capim me pisou, 
e me ressoprou eu sendo cinza”






“ saudades, dessas que respondem ao vento, 
saudade dos Gerais, aquilo me transformava,
me fazia crescer de um modo, 
que doía e aprazia”








“ que no céu só vi tudo quieto, só um moído de nuvens(...)
e  tantas cordas de chuvas esfriavam as cacundas daquela serra”




“ uma musiquinha até que  podia ser dançada, 
só o debulhadinho de purezas, de virar-virar”




“ Otacília sendo forte como a paz, 
feito aqueles largos remansos do Urucuía”


“ a liberdade é assim, movimentação”


“ Aquele mundo de fazenda, sumindo nos sussurros, os trastes grandes,
 (...) a cal nas paredes idosas, o bolor”



“ alembrado de que no hotel e nas casas da família, na Januária, se usa toalha pequena de se enxugar os pés, e se conversa bem.  Desejei foi conhecer o pessoal sensato, uns em seus pagáveis trabalhos, outros em seus descansos comedidos, o povo morador(...)  
a passeata das bonitas moças , uma flor airada 
enfeitando o espírito daqueles cabelos tão certos”




" cabem é no brilho da noite, aragem do sagrado, absolutas estrelas" 



" na coruja, um retiro taperado (...) que mesmo como coruja era , de tristes gargalhadas, porque a suindara é tão linda, nela tudo é cor que nem tem comparação nenhuma, por cima dos riscos, sedas de brancura " 
" a gente se comportava, de parar ali, envelhecendo os dias" 


" a mó do moinho, que nela não caindo o que moer, mói assim mesmo, si mesmo, mói, mói..."


" Olhei para cima: pegaram nas nuvens do céu com mãos de azul"



" a gente muito rimos todos"



" Como os rios não dormem. O rio não quer ir a nenhuma parte, ele quer chegar a ser mais grosso, mais fundo..."



" O mundo meus filhos é longe daqui!




" Ah! Essas estradas de chão branco que dão mais assuntos á luz das estrelas"





" razão e feijão todo dia dão de renovar"




" Para ele por pobreza, tirei meu chapéu e conversei com pausas"




" O sertão é confusão em grande e demasiado sossego"




" Pouco se vive, muito se vê"





" Porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada"




" mas eu tinha conseguido encher em mim causas enormes"





" conselho de amigo se merece por ser leve ,feito aragem de tardinha palmeando em lume d'água"





" me lembrei da luzinha de meio mel, no demorar de olhares dela, (...) a docicez da voz, os olhos tão em sonhos" 





" remei minhas perguntas,
o sertão não tem janelas nem portas, e a regra é assim:
Ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa "




" um lugar conhecia o outro é por calúnias e falsos levantados, as pessoas também, nessa vida "





" a gente gastou o entendido, mas muito razoável falou "



" o contrato de coragem de guerreiros (...) não é com dares e tomares "



" a vida é um vago variado, a vida é muito discordata. Tem partes, tem artes, tem as neblinas de Siruiz, tem as caras todas do cão, e as vertentes do viver"





" Um primeiro sono sim, o resto foi ondas. Reprazer crú dessa espiritação, eu ardia em mim em satisfa contente, feito fosse véspera duma patuscada "




" Eu só não me desconheci, porque bebi de mim esses mares"





" ali tinha carrapato (...) que é que chupavam por seu miudinho viver ? "





" aquilo que de chuvas de flor dói em branco "



" Treciziano, o bruto . Era fraco de paciência, pra falar a ele só a cajado! E pegou a malucar? "



" Na cintura a tiracol (...) se arranjou para ela par de alpercatas (...) pudesse até com as unhas dos pés me matava"



" Mas os olhos diferiam de tudo, eram pretos repentinos e duráveis, escuros secados de toda boa água"





" Ser chefe as vezes é isso: que se tem de carregar cobras na sacola, sem concessão de se matar"





" a esses muitos desertos com gentinha pobrejando"





" de ser o Felisberto, o que por ter uma bala introduzida na cabeça vez em quando todo verdeava verdejante, como ja foi dito. Então elas duas pensaram em se mandar o Felisberto entrar para provar do café também, dando que não é justo ficar um desconfortado no sereno, enquanto outros se acontecem (...) no sertão tem de tudo "




" - o sertão é bom?  
  - o sertão não é malino nem caridoso, mano oh mano! Ele tira ou dá, ou agrada ou amarga, ao senhor... "





" Quantas coisas terríveis o vento das nuvens havia de desmanchar, para não se sucederem? 





(...) O sertão não chama nimguém as claras, mais porém se esconde e acena, de repente o sertão se estremeci debaixo da gente "





" eu aguentei tudo que é cão e leão "




" lá o ar é repouso (...) sossego traz desejos" 



" de Nhorinhá , casada com muitos, e que sempre amanheceu flor"



" e os olhos água-mel em verdolências que me esqueciam em Goiás"



" céu há, com esplendor, e aqui beleza de mulher, que é sede "



" sertão sendo do sol e os pássaros que sempre voam, ás imensidões, por sobre travessia perigosa, mas é a da vida, (...) bambas asas"


" Tuscaminho Caramé, que cantava bonita voz, algûa cantiga sentimental "



" vão da noite, quando o mato pega a adquirir rumôres de sossegação"



 " e de miúdo eu dava de comer a minha alegria"



" e agora se tem, que dê? A pois."



" só comandei, comandei o mundo, que desmanchando todo estava.  Que comandar é só assim: ficar quieto e ter mais coragem"



" se não virei deus, também com o demo não me peguei"



" Macambira das estrelas 
quem te deu tantos espinhos? 




" madrugada de meia-noite a lua ja estava muito deduzida,
 o morro e o mato misturados"




 " Quem sabe o que estas pedras em derredor estão aquecendo? E que uma hora vão transformar? De dentro da dureza delas, como pássaro nascido?
Só vejo segredos" (...) como cachorros correndo os ventos"




" Ainda vi com ele, com a mão tão suave em paz, e tão firme em guerra"



" somente foguinhozinho avoável assim azulmente"





" o ninho deles tão reduzido em artinha "






 " cá o céu tomou as tintas"




" o amor, pássaro que põe ovos de ferro"





" Sei o grande sertão? Sertão: Quem sabe dele é urubu, gavião, gaivota, esses pássaros, eles estão sempre no alto, apalpando ares com pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas "





" sertanejos mire e veja: o sertão é uma espera enorme"





" era  uma noite de toda fundura"





" se podia nadar no sol"





" as árvores com gotejos"




" Perto de mim veio grão de aço, tudo ali era maldição, as sementes de matar"



" O querer bem da gente se despedindo feito riso e soluço, nesse meio de vida"




" Epa chefe! Respondi! Eh, êpa! "




" O sertão me produziu, depois me enguliu, depois me guspiu , do quente da boca"



" jaburú e galinhol e garça-branca, a garça - rosada que repassa em extensa no ar, feito vestido de mulher"



" As horas é que formam o longe"



" O menino Guirigó (...) ele era um menino, o cego Borromeu fechava os olhos. Tive pena. Eu disse: vocês tem paciência, meus filhos, o mundo é meu mais é demorado "



" Ah , o senhor pensa que morte é choro e sofisma.
     Terra funda e ossos quietos "




" mesmo o que vi, aquele mexinflól"




" No céu um pano de nuvens,
      subi os abismos,
    eu estou 
        depois das tempestades"



 " a senhora conheça dona, um homem domõiado que foi, mas que já começou a feder, retalhado na virtude do ferro"



   " Que Diadorim era o corpo de uma mulher, moça perfeita... Estarreci. A dôr não pode mais do que a surpresa"



" O senhor vai ver, pessoa de tal rareza, como perto dele todo mundo para sossegado e sorridente e bondoso"




" O rio Abaeté, que é entristecedor de belo"



" No tempo de maio quando o algodão lalã, tudo   branquinho"



" O diabo não há! É o que eu digo, (...) Existe é homem humano. Travessia"




  " O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso me alegra, um montão "




“ sertão 
 é dentro da gente”


















 Grande Sertão Veredas - João Guimarães Rosa