terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Do amor





 







Realmente
algumas lembranças
são vestígios
de lágrimas

E nos sonhos
quando choramos
as lágrimas só caem
no dia seguinte
com as pétalas feridas

num que de horas
que se ama mais
de olhar pras nuvens
enchidas de saudade
querendo aplausos
para os dramas que encenam
dos homens

esquecer
pois o amor 
só chega na hora certa
não é bom encontrá-lo
nem muito antes
nem muito depois

e voar batendo asas em vertigem
feito pássaro sem pés
que não consegue pousar
dos céus dos teus encantos

colher as pétalas
que caem das palavras
vislumbre de eternidade
no suave toque entre cílios

 "eu acho suas asas incoerentes
    com as algemas que você carrega"

do amor




imagem - Ícaro












domingo, 23 de dezembro de 2012

lumina








E veio mesmo o fogo
chuva de lâminas vorazes, lépidas
 vento de línguas cortantes
fogo vil, duradouro
faminto fogaréu

Mas onde estão as cinzas?
nada de cinzas
eis ouro puro,
lírico e perfumado

tuas pétalas
incensam luz e simpatia
douradas, duradouras
não derretem
iluminam

muito mais forte
você continua, resistente
 a conduzir com elegância
a domar carrosséis tresloucados
em rompantes de fúria

com discrição
porém avante,
maviosamente perene
a  brilhar e encantar
com perfeição






DAVI CARTES ALVES 





























A luz do teu sorriso




Luz & Lua 



 A luz do teu sorriso
é assunto preferido
do brilho das estrelas

fugir de ti
pra dentro de mim

mas a lua do teu sorriso
não quer esperar lá fora

em romper
da aurora

do amor




DAVI CARTES ALVES 







 

Crepúsculo Vespertino








O crepúsculo vespertino
flamba as nuvens de saudade
arrebol de estrelícias


nervuras que se dispersam
bordando origamis de luz

dourando o silêncio
dos pássaros

derramando
porções de mel

na melancolia
das horas


 saudade





 
DAVI CARTES ALVES 













sábado, 22 de dezembro de 2012

Bicicletai!



        




    Um dia desses, evidentemente, tudo há de dar certo, os automóveis se extinguirão, e a superfície da terra será povoada por bicicletas. 
Alguns carros, ônibus e caminhões serão expostos nos museus, feitos mamutes, guilhotinas e outros monstros findos, para divertir a criançada e alertar os adultos: 

Que o horror jamais se repita.

Sobre selins acolchoados, seremos felizes para sempre.




Antonio Prata



















sábado, 15 de dezembro de 2012

Cecília Meireles







" Que sobre-humana face
vem dos caules da ausência
abrir na noite o sonho
de sua própria essência


Há uma canção que já não fala
que se recolhe dolorida
Onde, o lábio pra cantá-la?
Onde, o tempo de ser ouvida?

O meu amor não tem
importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!



Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?
O meu amor não tem
importância nenhuma.





Cecília Meireles






   

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Poeta







um ouvinte declarado da chuva, 
um leitor apaixonado do sol
quando conseguir se definir, 
deixará de ser poeta…"




Fabrício Carpinejar










terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Saudade







Só você tem esse dom
de dizer em terra,
doçuras e delícias de um céu
que se usufrui deslumbrado
na maciez de uns olhos fagueiros

nesta doce intimidade solar
trazendo nas suas asas de amor
a suave calmaria do mar

e a lembrança dos teus doces abraços
leveza que me envolve asas mansas
de pássaros apaixonados
declamando ao lusco-fusco
amores e dissabores

contemplados da triste janela
derramam num vôo brando
slides dos teus sorrisos
quais brisas de mil paraísos

colhidos num carinho ausente
e a sensação tépida e premente
que a saudade
dói mais a dorida dor
sem os desvelos do teu amor

seus lábios tão lírios
quão líricos
teus braços tão cisnes de amor
tua alma quão lua,
tão sua
você meu mar jovem em flor

hoje minhas borboletas tagarelas
sonharam novamente contigo
e acordaram cochichando em rubor
que só mesmo dos teus beijos maviosos
flui o mel do paraíso


Saudade



DAVI CARTES ALVES




   





Alberto Giacometti





 " extrair o maravilhoso do banal "







https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcStZbtPA8_TeSurkwqs9KNmu9y8lxGNaypwoqsaG2J8PFwuq_tETQ












https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ3E2dWswQg2jYWRal4N15pP6tBfYNW-zUTmm5O_3KilfdX4Fy3nQ




https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSZacXe38k25MHy4ekgxylmSEpuaD32KGw_rN8E1FHbTEBVoYs04Q




















  
 





  






  



 https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSChRbLezJbNwWW5E5OKHWs7_rfN_4bcnQPLJ6NnuPy2SNc7qDq


 


 





https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTOMf7maJkrTM-th_YnhRNkI-0bwUXq4PAKqhFnlDwwIFp7bJ4f






Alberto Giacometti

                                           pintor e escultor suíço














domingo, 25 de novembro de 2012

Espevitada






Ela sempre
quer um pouco mais
o "chorinho" da garapa
a borda mais recheada
três goiabadas
várias reboladas
mel na limonada
muita dança iluminada
longa gargalhada
mais fôlego para o beijo
goiabada com dois queijos
muxoxos & gracejos
balanço e traquejo
ela é uma flor
um amor
leve &  lírico
sabor







DAVI CARTES ALVES
















sexta-feira, 9 de novembro de 2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Julian Barnes - The Sense of an Ending









A borboleta da noite





 



 Só ela enchergava
o vôo mavioso
da grande borboleta negra
entre as mantas evanescentes
da noite

coração alado
 num voar de expiação
aspergindo um bálsamo curativo
nas almas angustiadas
sob um céu doridamente
enlutado






Davi Cartes Alves




















domingo, 28 de outubro de 2012

Herman Hesse - Narciso e Goldmund









“ O homem é formado por uma multidão de egos”  



“ não seria mais que espumas boiando no mar,

ondulação sem sentido

nas torrentes dos acontecimentos”
 


“ fizera alguns buracos 
na rede do tempo 
e da realidade ilusória”






Herman Hesse - Escritor Alemão
trechos de -  O lobo da estepe





Narciso e Goldmund







Só depois de ter vivido as alegrias e as dores de todas as paixões, depois de ter experimentado o amor, a luxúria, a fome, a peste, a guerra, o crime, o medo e a coragem, o egoísmo e a abnegação, depois de haver explorado a carne e o espírito de inúmeras mulheres – habitado por uma ânsia de ilimitação, mesmo na entrega mais veemente – 


só então Goldmundo logra materializar numa obra de arte o seu ideal de beleza: esse rosto de uma virgem, que é a síntese maravilhosa de tudo o que ele amou, de todas essas mulheres que desvendou, a quem fez sofrer e por quem sofreu para as conhecer, e até do sol e da lua, das florestas e do vento, porque semelhante rosto será, em última análise, uma imagem da totalidade, e para a totalidade tende todo o misticismo estético de Hermann Hesse.

 
Sendo, aliás, como o é, quase toda a sua obra um longo diálogo interior entre os duplos, em Narciso e Goldmundo Hesse encarna nas duas personagens, que exprimem os elementos apolíneo e dionisíaco, ou mais precisamente, o intelectual Narciso a dignidade da solidão e da reserva, as satisfações do ensimesmamento e a escureza das suas funduras; o intuitivo Goldmundo o entusiasmo, a vertigem da sensação, a procura do belo pela experiência exterior, a busca inconsciente da infância perdida, o regresso à origem.
 



 Nesse grande afresco da Idade Média que é o romance Narciso e Goldmundo, não há qualquer veleidade de reconstituição arqueológica, mas antes um palpitante bosque de símbolos, ao mesmo tempo que uma aprendizagem da vida e a descoberta dos mecanismos do pensamento e da arte, enfim reunidos na conjunção das existências paralelas, porém tão distantes, do frade e do escultor.



  A própria biografia de Hermann Hesse apresenta traços comuns com a dupla experiência de Narciso e Goldmundo. Destinado pelos pais à carreira teológica, Hesse  fez os seus estudos nos seminários de Maulbronn e de Tubinga. Se é certo que não teve a vida errante de Goldmundo, o seu temperamento paradoxal apetecia tanto a glória dos sentidos como o retiro, as cinzas e os veludos da interioridade, com o seu orgulho, os seus pélagos sombrios.




 Mas num e noutro 'modo' tentando sempre realizar a personalidade livre e autêntica, capaz de se ver sem se mirar, de se julgar sem comprazimento, É dessa dualidade, com o seu consequente apetite de unidade, que nasce a força da obra de Hermann Hesse, em que a amizade viril (e através dela a dialética dos contrários) desempenha um papel primordial, superado pelo desdobramento do 'eu' em Ele e o Outro (Klein und Wagner).
Certas ideias mestras insistentemente se repetem na sua novelística, que pretende apresentar-nos sempre, em ação e em reflexão, as chaves da existência. 



 Tal o motivo da morte na água, com o seu significado de retorno à mãe, da qual sobretudo o artista, aquele que força as portas do mistério pelo conhecimento sensível, nunca se aparta – e por isso torna as obscuras exigências da carne em beleza, em esclarecimento do que existe.



Marcado desde muito jovem pela sabedoria oriental e pela atmosfera pietista da sua ascendência de pastores protestantes, depois pela sua visita à Índia, facilmente se explica o seu pacifismo durante a guerra de 1914-18, que lhe valeu as primeiras perseguições nessa Alemanha de que ele, entretanto, representa, mau grado o pudor e a ironia latentes em tantas das suas mais delicadas e lúcidas páginas, o melhor espírito romântico, com tudo o que implica de imensidade de aspirações. Por isso Demian é um dos romances mais formosos e mais europeus do nosso século e o Nobel premiou com inteira justiça a obra romanesca de Hermann Hesse.




Inteiramente cônscio da importância das vozes discordantes, o autor de Peter Camenzind previu, com náusea e pavor, os desmedimentos do hitlerismo, os seus atentados à liberdade. Testemunho dessa sua atitude são alguns dos artigos de Frieden und Krieg.



 Durante o regime nazi, os escritos de Hermann Hesse foram proibidos na Alemanha e impressos na Suíça, onde de há muito ele habitava, tendo acabado por adotar a nacionalidade helvética. Não obstante, nada mais alemão, no bom sentido, como obra de cultura, do que a sua fantástica Viagem  no Oriente, impregnada toda ela desse amor do mágico tão caro à psique germânica e onde, na interpretação da vida e do sonho, se dão as mãos, em inesperada farândola, figuras da mitologia e da literatura de que ele próprio provém, desde Heinrich von Ofterdingen ao alquimista Lindhorst, até às criações da sua própria mente, que à beira dele permanecem para além do romance concluso.



A interdependência de todas as coisas em relação ao cosmos é talvez a cúpula da ficção, não muito extensa, de Hermann Hesse, graduada e sintonizada em esforço de procura e revelação. Da disponibilidade de Goldmundo, da tensão de Klein em busca de um 'si' não atraiçoado, do choque de ambos com um elemento água-mãe-paz, tira-se a dupla lição de uma conquista poética, frustrada ou não, de unidade – até de re-união –, e de libertação do indivíduo, de assunção de uma autenticidade comprometida.



Sempre, de resto, Hermann Hesse, individualista à l' outrance, se opôs ao aniquilamento do homem, apresentando, contra o carneirismo que submergiu a Alemanha dos anos 30 e 40, a consciência de si, o Eigensinn, suprema virtude, no seu ver, que só escuta e respeita o 'si'.
   


Não quis Hermann Hesse, após a guerra que derruiu os valores anti-humanos do nazismo, tomar posições políticas, nem optou por qualquer das Alemanhas divididas. Confinado, porém, na sua arte e defendendo do mundo a sua intimidade, permaneceu, até ao fim, Narciso-Goldmundo, velador da beleza como descoberta pessoal, encontro com as fontes genesíacas e participação no sublime – solidário entanto que solitário, como poderia dizer Albert Camus, seu parente de espírito.



 












































http://www.delfimsantos.net/manuela/UTR_Narciso-Goldmundo.htm










Leia também:






Demian





Siddharta







O lobo da estepe











Peter Camenzind

https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRXL2zyGgQ_MHHxby9CYrjV26-DA2Qzxp6PX4mbJ9H67HRuITw7