quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Não deixe pra dizer que ama quando for tarde demais






Não adianta dizer que amava
só no pé da cova rasa
escrever em vão epitáfios de amor
na grinalda de perpétuas
ou no vaso de crisântemos

onde o térmita e o tempo
dissolvem tudo
em sol, chuva
 descaso ou relento

dizer que ama
com ternura de querubim
protege a alma do tempo
e do cupim

mas desde que proferido
em palpitante vida
uma e muitas vezes
dizer que amas
 
escrevendo n’alma querida
o amor
por seu eterno
cinzel em chamas

certamente,
não farás na sepultura

 poroso drama.






   DAVI CARTES ALVES


imagem google 










quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

pura ternura de criança





Tu me fez ver na queda
suave passo de dança
fez da tola ambição
e da nociva prepotência
 pura ternura de criança
 
 
 
DAVI CARTES ALVES
 
 
 

E veio mesmo outra manhã







Versos bordados em rendas
estrelas nuas em couro
beijam-se ás brisas, em fendas
gotejam lágrimas d’ouro

tuas lindas imagens
minhas sendas
derramadas
da cantilena de um monjolo

disseca num fino vaso
buquê 
de pálidos aforismos
 
noutro
minhas ninféias roxas
tem um choro balbuciante
no fel dissonante das horas

gravetos úmidos na invernada
suplicando dóceis lareiras
quando fende-se a ferida profunda
no encontro dos lagos quietos

meus belos sonhos diletos
não fossem díspares
os nossos
posto que o mel da tua alma
não quer secar dos meus ossos.




DAVI CARTES ALVES
 
 
 
 
imagem google 
 
 
 


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Aquarela de saudades





Minhas noites imprimiam
nos céus daqueles olhos
tão límpidos
demãos e demãos de estrelas
 e versos de amor

desnudando cometas
aplacando tufões
em ápices de cólera
e pétalas pulsantes

enlevando-se com a verdade
nos olhos dos teus pássaros
quando as suas asas
 flanam borrascas
quando seus vôos
debatem-se em procelas

um punhado de palavras
por um caleidoscópio
de sensações 
 
é quando 
o crepúsculo vespertino
flamba as nuvens de saudades
arrebol de estrelícia
dourando o silêncio dos pássaros
derramando porções de mel
na melancolia das horas

queria
ser o vermelho pra pintura dela
ser tantas cores pra sua alma
ser amor em outras matizes
ser aquarela




  DAVI CARTES ALVES





quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Lenine









Amicão






 Meu amor é simples, Dora
 como a água e o pão
 como o céu refletido
nas pupilas de um cão.



(José Paulo Paes)





O protesto das joaninhas





Em sinal de protesto
informou-me o bombado zangão
que as joaninhas do pomar
colocaram tiarinhas pretas
porque você disse que não virá
no próximo verão.
 
 
 
 triste por não te ver neste verão
 
 
 
DAVI CARTES ALVES
 
 
 
 
 

domingo, 11 de dezembro de 2011

Affonso Romano de Sant'Anna



Sobre gêneros  literários





"Não existem gêneros menores,
existem pessoas menores ou maiores
diante de certos gêneros "


Affonso Romano de Sant'Anna - Escritor brasileiro






Jardim de estrelícias




Contemplá-la
é se perder pela órbita
de um céu de delícias

E caindo
se afogar em deleite
num mar de carícias

Para amá-la
entre passáros de fogo
em meio a origamis de luz
num jardim de estrelícias



DAVI CARTES ALVES
 
 
 
 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A fada ferida





Outro dia chegou triste
balbuciando gemidos inaudíveis
trazendo nos olhos baixios
doridas nuvens que restaram
de um céu despedaçado


                                                             
DAVI CARTES ALVES




                                                               









sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Music video by Chaka Khan performing Angel

A imortalidade do amor





Tua boca
tem sopro doce de luar
mas em minha alma
conjuga em chamas
o verbo amar

teu beijo
tem o mel da imortalidade
faz a alma sublevar
entre as suaves sensações
da tenra idade

teu corpo
és bojo macio de tulipa
a recender frescor
de magnólias apaixonadas
banhando em luminoso paraíso,
meu taciturno mausoléu

faz-me sentir-se como Hermes
altaneiro, irrequieto
a levar recados
entre a terra e o céu

e hoje
minhas borboletas tagarelas
sonharam 
novamente contigo
 
e acordaram
cochichando em rubor
que só mesmo
dos teus beijos maviosos
flui o mel do paraíso.


 
DAVI CARTES ALVES



imagem - Google
O Beijo de Eros e Psiquê - Louvre
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Edvard Munch






O hino da noite





 A lua cheia
borra os sapos de neon
alumia as pedras
a cantata dos grilos
o hino da noite

passos bruscos e pesados
nas folhas secas
que já recebem
um suave verniz

de orvalho,


ou seriam lágrimas?



DAVI CARTES ALVES














Quando elas estão no comando





 Lá pra onde
a brisa cria
com a dança das marés
sonhos & poesia

segredando aos enamorados
que uma ponte
nunca fica 
desapontada
 
quando sente
que são as crianças
ruidosas
que estão no comando

Então,
teça tecelão do vento!
Pois a poesia
não nos diz
pra onde vai a beleza

quando a pétala
 desprende-se da jovem rosa
rabiscando de carmim
o ocaso

d’alma



DAVI CARTES ALVES 








segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Bailarina





 Que jóias a trouxeram
do mar profundo?
As flores das estrelas
 o mel do mundo?

A dançar o amor
somente o amor

em meus 
submundos.






sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Hora de breve doçura







" É a hora em que as sombras leves
amadurecem as coisas no mundo
é a hora da breve doçura "



Augusto Frederico Schmidt








O canto das sereias








Indiferente ao rochedo frio, há horas recolheu-se na Pedra do Albatroz. 

Sentou-se naquela posição que lhe era peculiar, abraçando os joelhos, a cabeça baixa, taciturna. Não observa, bem acima, os rabiscos que as gaivotas fazem em um céu de amianto. Não quer encarar o farol, quieto e soturno, como um gigante leve, irmão dos pássaros e das vagas, cativando os silêncios d’alma. Não quer reparar no vento penteando com força as crespas folhas de pequenas moitas valentes.

        Mais abaixo, as ondas oferecem lânguidamente, níveas colchas de alfenim aos pés do rochedo ríspido e imberbe.

        De súbito, abre olhos e os sentidos já estão envolvidos em um canto sedutor. Ergue a pesada cabeça, levanta-se atônito enfrentando camadas e camadas de carícias da cantilena que vem do mar e o alicia perturbadoramente.

Ensaia os primeiros passos descendo rumo ao imenso colchão de espuma, os olhos já enamorados, a alma derramando-se no balé das vagas, absorta em um brechó de sensações e prazeres inefáveis.

A vista cambiante perde-se no elo sempiterno entre mar e firmamento. É doce e feiticeiro o realejo à maresia. 

Súbito, anjos irrompem a abóbada de amianto. Entre atentos e pressurosos,  em meio  a miríades de sereias, acompanham o canto em segunda voz. 

O pescador sente como se lhe imprimissem n’alma uma primeira demão dos sentidos que retornam. Olhos cansados. Cílios beijam-se suavemente. Enxuga o suor da face, faminto, recolhe os apetrechos. Atônito , um pouco zonzo. Percebe que já é tempo de retornar à casa.

  

   DAVI CARTES ALVES 







domingo, 20 de novembro de 2011

Arco - íris






O menino caminhava à beira mar com seus amigos. Já estavam muito cansados. A bem dizer, exaustos, quando ao longe avistaram um bando de cães. Diversos, canhestros, esverdeados. E os cães começaram latir. Mas latiam num ritmo paralisado. Rotação emperrada que impedia o som. Dos seus uivos formou-se uma espécie de gaze , véu lilás cobrindo todo o mar, que agora exalava uma fina e perfumada fumaça salmão sublevando e balbuciando canções de ninar. 

         Seria o incenso das sereias, emergindo do imenso e colorido véu sonoro? Talvez os meninos pensassem. Enquanto peixes com seus saltos coleantes fora d´água transmutavam-se prontamente em gaivotas-néon ascendendo em meio a grandes arraias e bailarinas evanescentes. Dos bicos desses insólitos pássaros derramavam-se barquinhos de papel, caindo suavemente na superfície lilás do mar. 

Seriam crianças de colo com suas gengivas lisas e lindos dentinhos os navegantes dessas embarcações? Os meninos talvez pensassem. 

Mas tudo se fecha e some no piscar dos grandes olhos verde esmeralda, velados por longos cílios da bela fada-sereia. Brincadeira de cabra-cega. Olhos que caíram na areia entre os garotos como lindas bolinhas de gude que tilintavam entre os gritos do barulhento intervalo escolar.

E eis que um bruto som abruto de buzina intima os garotos a olharem de súbito para a rua. Como alcatéia de lobos ou cães adormecidos quando ouvem um tiro no cio da noite, levantam as cabeças em uníssono, todas ao mesmo tempo em gesto idêntico. 

Seria talvez o barulho do ônibus  do Sacre-Coeur levando para longe as meninas que mascavam bolas de chicle. Metade uva, metade laranja? E o coração dos meninos pela metade. De repente, bate o sinal. Devem retornar às salas. O menino e seus amigos tapam os ouvidos e correm de olhos fechados. Lentos sons de latidos. A infância deslizando no  longo e encantador arco-íris.

Breve tempo infinito.



DAVI CARTES ALVES





terça-feira, 15 de novembro de 2011

Rosas douradas

 
 
 
Emergiam
em meio aos nossos lençóis
rosas douradas
perfumadas
com o nosso amor

sublime amor
engolfado no balé
de suaves carrocéis
e arraias de seda

pois o amor sempre foi
nosso banho de mar primeiro
enquanto você comandava
e direcionava
nossas carruagens de neon
 
depois
quando você se foi dos meus olhos
dos espelhos d'alma
só queria tanto
ter lhe dado
um último abraço, longo
terno & afetuoso abraço
 
e ali
naqueles segundos eldorados
tentar bisbilhotar
no teu coração
algo do meu

tão seu



  DAVI CARTES ALVES
 
 
 
 
 

domingo, 13 de novembro de 2011

Pablo Neruda

Matinal





Versos borrados
no guardanapo
 trazem a  fragrância
da teus lábios
embaralhando
 definições do amor

doce oferenda matinal
em coleante cesto de aljôfares
graça, suavidade, leveza
emoldurando minha inspiração
sob os poemas do teu olhar

enlevando
 os sensores do meu juízo
no orvalho do teu corpo
o relicário do paraiso

nívea acácia 
luz de encantos
das tuas pétalas a recender
a perfumaria dos anjos



DAVI CARTES ALVES
 
 
  
 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

nesta janela sobre o mar






O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar

O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar

O amor é grande e cabe
no breve espaço 

de beijar. 



Carlos Drummond de Andrade





terça-feira, 25 de outubro de 2011

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A elegía do amor





Amar-te é sublime
é sentir a alma engolfar-se
nos casulos
da brisa primaveril

sentir-me
como as pedras frias, duras
mas que
no leito dos teus braços &abraços
acordam dunas
areia clara, macia
doce elegia
de querer-te

pois só
tua alma traz a musica do mar,
e marulhar no teu doce realejo
no frescor dos teu abraços,
balbucio, deliro,
versejo

o primeiro pingo
da garoa nua
fez minh’alma
ser tão sua

beijo de brisa que sulca
o pelo felino
riso menino
sob o som de violino

derramas por taça de volúpias
seara de nirvanas
és minha linda borboleta sedutora
que pousa embevecida
em mar de chamas

vestir-me de você nesta hora
hora escarlate
que transpassa
como amar e sonhar
no bojo tépido e macio
de uma bela acácia

nos teus braços
renascer em uma fonte
de generosa doçura
neste cárcere paradisíaco
quais flamingos alados
em ternura

em meio aos teus lábios & versos
 sinto-me flutuar em espiral
na cadência de milhares de arraias
dentro de um balé vertiginoso,
divinal

em você
como nas mais raras e belas flores
só devem pousar borboletas
com multicoloridas asas de seda
e delicadas anteninhas de ouro

ficas ainda mais bela
de sobretudo caramelo
os anéis de seus cabelos me anelam
ao roubarem beijos
dos seus lábios de mel
como travessos colibris.

 Sua presença!
Quão maviosa!
Chegar assim,
nesta doce intimidade solar
trazendo nas suas asas de amor
a fagueira calmaria do mar

como derramas n’alma
sob densas matizes
sua generosa cesta de cores
és tão leve, tão luz, quão linda!
a pousar e repousar teus afetos
sobre os meus 
mais tênues sensores

faz-se toque entre cílios
feixe de gérberas
caldo de luar
reinventa num sopro melífluo
novas nuances
para o verbo amar

faz-se beijo de brisa
cantinela de riachos
langoroso esvair-se da onda na areia
num que de ofertar

faz dos teus mansos fulgores
em minhalma,
um perene palpitar

O que continuará a existir sem você?
Pois quando o amor, generoso
derrama-se dos seus lábios sobre nós,
ele produz n’alma, o sublime frescor
de um novo
e orvalhado amanhecer

banhar-se na volúpia e no deleite
dos teus rios de dor sem imagens
incendiando-me com as paisagens
evanescentes do amor

Uma e muitas vezes
brincar com o teu sorriso,
sorriso?
Ou um diamante que brilha?
Ou o céu que se anila?
faz lembrar,
a primeira estrela que cintila

Será que há mais mel
no bojo da acácia
quanto na terna mansuetude
de seus belos olhos?

Será que há mais
delicadeza & sensualidade
nas curvas da tulipa escarlate
quanto na leveza sinuosa
de seu lindo talhe
coleante de prazeres?

Que tal este presente amor meu:
a lua me sugeriu
um vestido de néon
o céu, uma tiara de estrelas
o mar, um multicolorido top
de conchas e corais

Não será pelo teu sopro
que abrem-se as acácias
e sorriem as buganvílias
enamoradas?

Afinal?
Que jóias a troucheram 
do mar profundo?
As flores das estrelas,
o mel do mundo?

Pedaços de cereja
teus lábios túmidos
a cantar o amor
somente o amor
em meus submundos

Quem é você?
que com os teus encantos e deleites
faz até mesmo
anjos & diamantes luminosos,

anoitecerem?

São as luzes das rosas
que iluminam tua alma?
Tormentas da vida recuam
ao teu pedido de calma

Tu me fez ver na queda
suave passo de dança
fez da tola ambição
e da nociva prepotência
pura ternura de criança



Davi Cartes Alves



Imagem - escultura
Jean Pierre Augier