sábado, 10 de abril de 2010

A HORA DA ESTRELA - CLARICE LISPECTOR



O PAPEL DO ESCRITOR NA SOCIEDADE


Em A Hora da Estrela, Clarice Lispector, usando uma linguagem singular, com a mais fina originalidade, onde pequenas frases, reservam-nos surpresas agradavelmente “abismais” de deleite, ou “sustos” muito bem vindos para o leitor, que espanta-se no bom sentido, com uma escrita tão “artesanal”, e tão rica de recursos linguísticos, entremeados de humor, ironia, acidez, poesia e dramaticidade.

A autora, neste romance, serve a leitores famintos, uma cesta generosa de tantas virtudes de linguagem e imagens, para nos saciarmos ao máximo, nos regalarmos até lambermos os dedos.


Clarice apresenta-nos de forma, ora amorosa, terna e poética, ora de uma forma contundente, acida e visceral, mas, sobretudo comovente e com extrema humanidade, a personagem Macabéia.


Ela se compadece da sua protagonista:
“ As vezes me da vontade, de te servir sopa quente, te colocar pra dormir, te dar um beijo na testa, e quando acordares, te mostrar o esplendor da vida”.

Assim, ela apresenta-nos o retrato de um grande numero de mulheres brasileiras, através da personagem alagoana , como Clarice enfatiza  “(...) milhares são como ela(...)” .


A escritora nos faz experimentar neste romance, em díspares matizes, diversos painéis de sensibilidade, que emolduram de forma ímpar, Macabéia e seu entorno, “pintados” pela autora com extrema delicadeza e poesia, destacando, que é papel do escritor na sociedade, sensibilizar os seus leitores, quanto aquelas almas frágeis, carentes e desprezadas, restritas aos interstícios do ostracismo, da indiferença, do descaso, bem como da privação a dignidade humana, triste legado que as desigualdades sociais e a falta de oportunidades, podem fatalmente vitimar.

Ademais, em A hora da estrela, notamos o quanto a ficção literária pode de fato, ser definida como a transfiguração da realidade, ou até mesmo, uma cópia dela.


Afinal, que mulher, ou homem, quem de nós já não se sentiu como Macabéia? Na sua solidão, na sua melancolia, na sua tristeza? Na sua pequenez?


Quem de nós em algum momento de nossas vidas, já não dividiu com ela, seu olhar singelo, desprovido de ambições e de fulgores, sobre a vida e as pretensões, bastando a si próprio?

Quem de nós, como Macabéia, a rosa "esquálida" cor de canela, não se limitou a buscar refugio, em nossos próprios jardins, “entre plantas e galinhas”, ou não buscou guarida tão somente, em nossos frágeis castelos de papel ou areia?


A genial Clarice Lispector, mostrou-nos com um texto sublime, que o seu papel é sim, relevante na sociedade, direcionando os nossos olhares a enxergar que mesmo nos grotões mais escuros, lúgubres, e abandonados da alma humana, há vida pulsante, há luz, e por essas paragens íngrimes d'alma, também  jorra generoso, o chafariz da poesia.


Portanto, este romance, breve, porém denso, tem um quê de conto, mas o impacto na alma do leitor faminto, só proporcionado pelas grandes epopéias.


Parte do trabalho feito para o Curso de Letras, sobre Clarice Lispector.


By   DAVI CARTES ALVES






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