quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Clarice e os lírios



 " Lírios brancos
encostados a nudez do peito
      lírios que eu ofereço
     ao que esta doendo em você " 


                                                  Clarice Lispector


.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Bala perdida






Tiros que não se calaram
e entre duas balas amargas
uma suave flor ferida
colchéia de nota triste
rosa escarlate
sangrando lágrimas


não verás mais
que o azul de março
é indigo e mais esparso
e que só mesmo
 sua borboleta matinal

trazia nas vastas asas de amor
refúgio & alívio
pra tanto mal



by  DAVI CARTES ALVES

Aos poetas






Meu querido poeta
cavaleiro das letras
guerreiro da luz e do amor
você traz nos olhos
um sonho bom
feito de vôos suaves,
alfajor

 tuas letras são chamas
diamantes quebrados
e repartidos a famintos
são espinhos enjeitados

são restos de pão
caindo sem volta
nos assoalhos
no chão batido
e cerâmicas da vida



by   DAVI CARTES ALVES



segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Maestro








O crepúsculo vespertino  flamba as nuvens de saudade, bordando  origamis de luz, arrebol de estrelícias,  mel dourando nosso amor, na melancolia das horas.


Ele chegou em casa todo dolorido, ruminando com pesar a indiferença de sua grande paixão, sentia-se como se uma garoa gélida e valente estivesse a açoitar a alma teimosa. E dizia a si mesmo, lembrando das palavras do amigo conselheiro, para de carpir na rocha!! Você esta socando ouriço, esquece isso! Deixa disso!

Os pés úmidos rasgavam-se em sangue enquanto pisavam nas laminas e cimitarras daquela beleza que o estapeava. Beleza muriçoca, que não o deixava em paz em noites de insônia.

E com o rosto marchetado em dor e resignação, restou-lhe deitar e sonhar no caleidoscópio daqueles beijos tão desejados.

E sonhava, Ah! Como sonhava. Sonhou até ter passeado junto com ela na maior roda gigante do planeta , entre os arranha-céus da Malásia, depois da visita aos primatas de Uluwatu.

Sonhava também ser uma espécie de curador do silêncio, sim, sonhava pintar o silêncio de poesias coloridas, onde pétalas de tulipas, gérberas, acácias e buganvílias, diluíam-se no céu do seu crepúsculo vespertino.

Onde soprava de um canequinho com detergente e canudinho, miríades e miríades de borboletinhas luminosamente amarelas que salpicavam tagarelas e palpitantes na lousa negra e fria da noite.

E nos seus sonhos, sonhava também ser um maestro.

Mas um maestro diferente, descia até o riacho, lá bem depois do vajão, nas baixadas do bororó, e com uma fina paina seca cor da pele, descia mesmo escorregando nas bordas, e caminhava um pouco adentrando no lindo riacho, ziguezagueante e musical, ia mais ao fundo, com a água até os joelhos, e parando de frente ao riacho mel, que descia caudaloso e docilmente sonoro ao seu encontro.

Aprumava-se altaneiro, pedia silencio pras rãs que tem aquele canto de amor triste e cadenciado, aquele da novela Pantanal que você ouve e da vontade de se jogar do décimo andar. Uma vez as rãs quietas de amor, então iniciava docemente no comando de sua orquestra natural.

Fazia os movimentos de um maestro com a paina fina, enquanto ouvia as cantatas do riacho, a água caindo melifluamente, voltava os tons maviosos e suaves, realçando com doçura os violinos e silenciando gradualmente o rabecão, e a água brincalhona beijando os sulcos e pedrinhas, fazendo aquele barulhinho que faz o sono ficar mais gostoso né? É o córguim né?


E quando chovia naquele cenário, na sua mente eram realçados os tons de intensidade, sax & violinos choravam com mais sonoridade, jogava a cabeça pra traz em gestos vigorosos, e o cabelo desgrenhado e úmido, como dos grandes maestros que ganham bem.

Dava pequenos repuxos com a paina, dardejando a cabeça e gesticulando majestosamente, e as cantatas do riacho misturavam-se com a musica que a chuva torrencial produzia, que até podemos chamar,
ritmo &; poesia.

E ele não queria ser um Vila – Lobos, magina gente, mas ali naquele cenário tão paradisíaco e aquoso, quão onírico e colorido, contentava-se em ser um: Vila – Girinos, sim, pois miríades e miríades de girinos trêmulos e luzidios que moravam no riacho, eram também espectadores finos vestidos de smoking com lindas gravatinhas, e ele em fim pode ver que os girinos possuem boquinhas para assobiar e aplaudir, e como sorriam, notou que especialmente os girinus albinos, tem menos fôlego para os versos longos.

E gradualmente, as chuvas avolumavam-se.

E quando tornavam-se violentas tempestades, em fim, sempre acordava de suas viagens oníricas, suando feito chafariz, pois para atenuar o seu amor impossível, sonhava ser como um curador daquilo que o silencio expõe, trata e sara , porque o silêncio também dialoga através de uma sinfonia própria para as almas apaixonadas.

E acordava mais tranquilo, lembrando de quão prazeroso era ser naqueles sonhos pueris, um curador do silêncio, ou um altaneiro e bem conceituado, maestro das cantatas de riachos.

E perguntava-se resignado:

Por quê será que no amor damos uma de faquir, e esquecemos possuir pés e pele
de recém nascidos?






Fer Paola


Saudade





































































domingo, 26 de dezembro de 2010

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Pura ternura de criança





Tu me fez ver na queda
suave passo de dança
fez da tola ambição
e da nociva prepotência
 pura ternura de criança


by  DAVI CARTES ALVES

domingo, 19 de dezembro de 2010

Encanto & Espanto





Encanto & Espanto
reverente
nos sonhos da ex crisálida
depois do primeiro dia
iluminado de sol
 como uma linda borboleta


à intensidade

dos primeiros raios
do teu amor ...




by  DAVI CARTES ALVES

sábado, 18 de dezembro de 2010

Paul Valéry




 " A poesia
   é o paraiso
            da linguagem "



                    Paul Valéry
                                                        Poeta e filósofo francês

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Canto ao mar, de dentro





Esvai-se o véu sonoro
cantando em chamas
ao silêncio lúgubre do farol
mantras em mantas de hissopo
purificando doridas claves d’alma
restos de alvorada
para uma legião de tensas procelas
dissolvem-se as borrascas
ante a força de um pensamento
mas elas retornam em laminas
e cimitarras famintas
há volatilidade nos mares de dentro
quando os sonhos porejam o amor
quando n’alma
rochedos suplicam tuas cores,
suaves marés
sem volta
versos soprando quimeras
em conchas pulsantes, escarlates
colchéias em litorais abandonados
tua voz , cantinela de riachos
sumindo em asas de areia
a imagem do teu sorriso
brinca no balanço das vagas
impresso na vastidão do mar,
irrequieto mar
intenso mar
triste mar,
de dentro.



by   DAVI CARTES ALVES






segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Oxigênio para as cores d'alma



Balé de brisas
afagos no vôo do condor
em meio a dança das arraias
um novo poema para meu amor


by  DAVI CARTES ALVES

Tela de  Barbara Tyson



sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Alfred ?




" A solidão poupa os egoístas,
                             já os egoístas não poupam nimguém "

 




As lágrimas do poema ...



As lágrimas do poema
douram de mel o fim de tarde,
                n'alma.




by   DAVI CARTES ALVES

Glub Glub



Foi leiloado no fundo do mar
                 um belo e longo vestido
feito de anzóis dourados



 


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Crepúsculo Vespertino
















O crepúsculo vespertino
flamba as nuvens de saudade
arrebol de estrelícia
nervuras que se dispersam
bordando origamis de luz
dourando o silêncio dos pássaros
derramando porções de mel
na melancolia das horas









  DAVI CARTES ALVES

















Quais brisas de mil paraisos





Slides dos teus sorrisos
quais brisas de mil paraisos
sorriso que surge n’alma
como sol depois da procela
e me traz
rios de paz
depois das borrascas
ou me faz vaso em chamas
em seu mar de cálidas
nevascas.



by   DAVI CARTES ALVES





Ferreira Gullar



" A poesia só existe
porque a vida é pouca
pra dar conta do espanto"

                               Ferreira Gullar


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Mosaicos para o Amor







O que continuará a existir sem você?
Pois quando o amor, generoso
derrama-se dos seus lábios sobre nós,
ele produz n’alma, o sublime frescor
de um novo
e orvalhado amanhecer

tua alma traz a musica do mar,
marulhar no teu doce realejo
no frescor dos teu abraços,
balbucio, deliro,
versejo

nos teus braços
renascer em uma fonte
de generosa doçura
cárcere paradisíaco
quais flamingos alados
em ternura

Em meio aos teus lábios & versos
 sinto-me flutuar em espiral
na cadência de milhares de arraias
dentro de um balé vertiginoso,
divinal


banhar-se na volúpia e no deleite
dos teus rios de dor em imagens
incendiando as paisagens
evanescentes do amor

sentir-me
como as pedras frias, duras
mas que
no leito dos teus braços & abraços
acordam dunas
areia clara, macia


Brincar com o teu sorriso.

Sorriso?
Ou um diamante que brilha?
O céu que se anila?
Faz lembrar
a primeira estrela que cintila
n’alma

Será que há mais mel
no bojo da acácia
quanto na terna mansuetude
de seus belos olhos???

Será que há mais
 delicadeza & sensualidade
nas curvas da tulipa escarlate
quanto na leveza sinuosa
de seu lindo talhe
coleante de prazeres?

Que tal este presente amor meu?

A lua me sugeriu
um vestido de néon
o céu, uma tiara de estrelas
o mar, um multicolorido top
de conchas e corais

e neste friu
ficas ainda mais bela
de sobretudo caramelo
os anéis de seus cabelos me anelam
ao roubarem beijos
dos seus lábios de mel
como travessos colibris

Não será pelo teu sopro
que abrem-se as acácias
e sorriem as buganvílias
enamoradas?

Afinal quem é você?
que com os teus  encantos & deleites
faz até mesmo

anjos & diamantes luminosos
anoitecerem?




  DAVI CARTES ALVES





sábado, 4 de dezembro de 2010

No leito dos teus braços & abraços




  " sentir-me
como as pedras frias, duras
           mas que
no leito dos teus braços & abraços
  acordam  dunas
              areia clara, macia ..."

 
                                         
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   .

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Declaração de Amor









As cores no mundo
tornam-se
muito mais intensas e luminosas
depois que a sua beleza
enche nossos olhos
depois que a sua luz
derrama-se generosa e suave
nos refolhos d'alma



saudade


                                    

            


                                              



   DAVI CARTES ALVES







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Godard




"  O dinheiro foi inventado
    para que os homens
não precisassem
        se olhar nos olhos"


   Jean-Luc Godard
                                         Cineasta Suíço

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Coração lua em chamas





Coração
lua em chamas
deslizando em arretmia
por tuas
 searas de nirvanas



by  DAVI CARTES ALVES


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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Leve





Sentiu-se leve
nos campos d’alma
brisa fagueira
entre revoadas de pássaros,
árvores farfalham sorridentes
retornam os colibris
joaninhas multicoloridas
pontuam os is.




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domingo, 28 de novembro de 2010

Brechó de Versos de Amor





Uma frase doce
confeita num breve sorriso
como suave palpitar
de pequenas borboletas brancas
sobre a campânula carmim

derramas luz da aurora
qual flor de pandora
usufruo todo o seu mel
nesta hora

esta doçura
que a tantos fascina
nesta ternura
que não pede rima

suavidade de folha que cai
beijo macaio
que pousa e se esvai
ora, bálsamo
para alma ressequida
ora, riacho que canta
uma música ressentida
poema

descansar sob revoada
destes pássaros mansos
que trespassam cativantes
no céu opala dos teus olhos

bojo de delícias
derramadas por
sublime orquídea
ou luminosa estrelicía

ouvir sua voz maviosa,
que transpassa a alma
como uma colcha sedosa
Voz tão escassa
como o cometa Haley
porém quando surge assim, musical
parece adoçada
com três colherinhas de açúcar
e nada de sal

suas amigas dizem hibernar
sob os melífluos remansos da tua alma
Etnas, Vesuvios e Katrinas?
Mas tu extrai a cada novo dia
para fascinar a todos
meigas, lindas e ingênuas meninas??

a vida não deixou de te chamar pra vivê-la!
Hoje, lhe sopraria uma brisa meliflua,
Um afago em seu cabelo,
uma carícia em seu rosto
pra gentilmente convencê-la
e pra si também tê-la.

Tua perene beleza
tua ternura de vinho,
frescor doce, carinho
deleite suave, atemporal
tua sublime pujança
embebida
em brilho labial

como se a cada piscar de olhos
a cada beijo desses seus lindos cílios
renova-se em sua alma
doce frescor de amanhecer
generosa alvorada,
de ternuras

Não me deixe
Cata-vento sem espadas
magnólias desprezadas
balbuciantes pedras frias
nos cantos úmidos, lúgubres, escuros
das vazias rodovias,
d’alma

Como tu seguras assim,
firmes na mão!
As rédeas do charme, do encanto
e da sedução?
Fazendo-me
 mais um subjugado prisioneiro
do seu vasto império
de fascínio, graciosidade
e paixão

cai outra pétala
da rosa chorosa
a arder numa solidão
de tintas tão belas,
quanto dolorosa.

se ontem me embebi em sonhos doces,
multicoloridos
no travesseiro fagueiro da maciez
do seu colo
hoje acordei ainda extasiado,
mas adentrei num pesadelo
ao ouvir você dizer-me
com olhos taciturnos,
enviesados para o chão:
“ Quero fazer carreira solo ”

E quanto aos nossos sonhos irisados?
os “ projetos encantados
por nós dois armazenados,
acaso já foram arquivados” ?

e aquele sorriso mavioso,
brincando naqueles lábios tão belos
fica impresso no espelho d’alma,
na retina , nas nuvens,
flores, na alvorada
como se derrama-se n'alma
o mel
naquela porçãozinha de vida
naquela luz do paraíso...

sem você
vou me consolar com as rochas
neste império de filisteus
implorar aos espinhos chorosos
atirados do jardim
que afaguem os cabelos meus

senti-lo pressuroso
teu coração de andorinha
em pujante arritmia
sôrve-la neste lindo cálice de lírio
vou do sumo prazer,
ao ápice do desejo,
só me reencontro num delírio

Exorciza d’alma
esses ventos doridos
deixe o céu dos meus olhos
pois pro amor
teu colírio
é um suave pássaro em chamas
é sopro na retina
de areia marinada

Naquele vale em suave declive,
havia um antigo cemitério
ao ver a noite sobrepujar
uma tarde fria e cansada
eis uma anciã de fronte vincada
sombria , encapuzada,
por fina garoa engolfada
a segurar numa reza balbuciante,
uma esquálida rosa negra
por suas lágrimas acariciada,
e numa lápide ilegível e disforme
tem suas pétalas derramadas.

Ela tem saudades
do teu olhar
ouro doce de luar
mar manso
eterno remanso
meu deleite
na continuação de amar

teu olhar
beijo doce de luar
cativas a vislumbrar o teu mel
em cálice de cílios
a debater-se submisso
na tua leveza
em fim aquietam-se
minhas fúrias, as tormentas
meus delírios

Por que meus beijos
não ascendem mais
as lanternas da tua alma sombria?
Vi pingar uma lágrima
na rachadura da tua xícara preferida

Pra onde voaram todas aquelas joaninhas?
Esse ano só deu pra montar essa árvore
com zangões
e algumas muriçocas que voavam de costas
E aquelas bolinhas multicoloridas?

Enfim encontro uma fenda de oxigênio
na maciez de “uns braços” machadianos
mas é só quando começa tua novela

Te esquecer, eu tento
mas me sinto como um sapato
Jogado ao canto do quintal
Sem o seu par, sob a lua da madrugada
Entregue ao gélido relento

Te esquecer, eu tento
Mas me sinto como a estrela
Radiante, palpitante, toda luz
Mas que se perde no cosmos
De sua galáxia
Buraco negro adentro!

Te esquecer, eu tento
Mas ao me lembrar daquele olharzinho dócil
ficar triste, sorumbático, taciturno
confesso ser capaz
de roubar não só os anéis
Mas o piercing ( ranco-lhe da língua )
as maria–chiquinhas,
roubaria pra você,
todo o penduricalho de Saturno

Te esquecer, olha
eu bem que tento!

" O homem bebe o leite da vida
sugando nos vasos túmidos
das sinfonias
" todo o abismo é navegável
a barquinhos de papel"



by   DAVI CARTES ALVES